segunda-feira, maio 19, 2008

O ordenamento que nos permitem

Pedro Cabrita Reis- Found cities

Que interesse pode ter um governo em criar uma “política consistente de mobilidade”, se lucrar com a desorganização reinante, quer através dos impostos sobre a gasolina, quer dos impostos sobre veículos, portagens, estacionamento, etc.? Nenhum. E é precisamente isso que se passa.

Em Outubro de 2007, a Comissão Europeia publicou o Livro Verde – Por uma nova cultura de mobilidade urbana. Objectivo, “criar uma política consistente em matéria de mobilidade urbana”, abrangendo cidades e vilas. O Instituto de Mobilidade e dos Transportes Terrestres (IMTT), abriu um debate público, cujas conclusões apresentou na publicação Resposta Portuguesa ao Livro Verde – Para uma nova cultura da mobilidade urbana. Vale a pena ler, para percebermos o raciocínio que preside àquilo que, na cabeça dos nossos governantes, mais se aproxima de uma política de ordenamento do território.


Muita conversa sobre a vantagem de andar de bicicleta, elaborados discursos sobre a necessidade de mudar as mentalidades, mil e uma ideias para sacar o coiro e o cabelo ao cidadão. Ah! E a escola, pois claro, essa entidade milagreira que da técnica do corte das unhas aos caprichos da senhora dona Carlota Joaquina, passando pelos méritos do dar ao penante, tudo há-de ensinar para a salvação dos homens. Medidas concretas de planeamento e reorganização dos transportes, nada mais do que vagos conselhos.

Durante anos estimulou-se o transporte individual e desinvestiu-se no colectivo. O transporte ferroviário foi (é) praticamente abandonado, como opção de circulação interna. As contas com que se justifica tudo isto, esquecem sempre as parcelas sociais e ambientais e, sobretudo, escondem o que se ganha em manter tudo na mesma. Soluções, só as que dependam do esforço e da bolsa do cidadão.

É por isso mesmo que não se vai aproveitar o brutal aumento do preço do petróleo para introduzir correcções. Não dá lucro. Ao contrário das portagens, dos estacionamentos pagos e do aumento do preço do combustível- estas sim, as únicas medidas de “ordenamento” a que teremos direito.

Em Vouzela


Não basta acabar com o estacionamento para melhorar a imagem da Praça

Em Vouzela preparam-se medidas de reorganização do estacionamento. Também aqui a falta de planeamento vai fazer estragos, cujas consequências vão recair, exclusivamente, sobre os ombros dos cidadãos. Quando se "pensou" o bairro da Senra, devia ter sido prevista a limitação de estacionamento em áreas como a Praça Morais de Carvalho e a Avenida João de Melo. Não foi. Agora tudo vai ser mais difícil. Até a hospedaria se debate com a dificuldade de não poder contar com qualquer espaço que facilite uma simples saída de bagagem.

Como alternativa à Praça da República e à Avenida João de Melo, talvez a melhor solução seja a adaptação do Largo da Feira, conciliando as duas funções (feira e estacionamento). Não é inédito. Mas, importante mesmo é que se aprenda com os erros e se perceba que áreas de expansão não podem servir, apenas, para a apropriação privada de mais-valias. Têm que integrar espaços que desempenhem serviços públicos.

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