Os supranumerários da Educação
Escola Conde de Ferreira- 1910. Imagem gentilmente cedida pelo Postal de Vouzela
“Não se trata de um erro. Talvez fosse um excesso de optimismo relativamente ao grau de preparação que as escolas têm”- Jorge Pedreira, secretário de Estado (12/04/2008), comentando o acordo entre o Ministério da Educação e a Plataforma Sindical.
“Tudo isto reforça a convicção de o único caminho a seguir é o da maioria dos países nórdicos, que só recomeçaram a ver os seus jovens a progredir quando, na prática, acabaram com o Ministério da Educação e entregaram o poder às escolas e à comunidade”- José Manuel Fernandes (Público, 9 de Abril)
Há coisas que se passam nos grandes centros que só conhecemos pelos noticiários- eis a nossa vingança. Do mesmo modo que, para muitos, não passamos de um pontinho nos mapas, uma colecção de imagens pitorescas, ver um acto de má educação de um qualquer jovem passar a confronto directo com alguém mais velho é, para nós, curiosidade de telejornal (ou YouTube). Aqui, a pressão do meio ainda se faz sentir (para o bem e para o mal) e se já temos telemóveis (para que conste), ainda não temos a indiferença que gera sentimentos de impunidade.
No que diz respeito ao ordenamento do nosso território ou, mais precisamente, à falta dele, todos os governos têm usado a táctica de varrer o lixo para debaixo da carpete. Entala-se a maioria da população na faixa litoral, ignora-se a existência do Interior, teorizam-se os benefícios da deslocalização, como se nada disto interferisse com a vida das pessoas, a sua estabilidade, as suas redes de suporte. Depois encenam-se indignações quando alguma informação sai do controlo e o país é confrontado com as consequências da obra. “Chamem a polícia”! Vá lá, vá lá, que ainda nenhum “estatístico” apareceu a descansar-nos por ainda não ter havido mortes nas escolas, como já aconteceu nalguns dos mais desenvolvidos países do mundo- ainda vão chegar à conclusão de que é um indicador de desenvolvimento...
Vouzela deve muito a excelentes professores que, em épocas várias, aqui deixaram marca. Mulheres e homens que perceberam (e percebem) a dimensão social da sua profissão, colocando os seus conhecimentos ao serviço da comunidade e tentando compensar as suas muitas carências. Nós sabemos quem são os professores excelentes e não precisamos que um qualquer burocrata da 5 de Outubro nos venha mostrar a “bitola certa” para os avaliar. Só precisamos que não atrapalhem.
No entanto, o Ministério da Educação insiste em considerar-se dono da verdade absoluta e impor regras ao país inteiro, como se todas as escolas tivessem que enfrentar os mesmos problemas, como se a reposta às necessidades de cada comunidade, pudesse estar dependente da sensibilidade e inspiração de cada grupo que vai ocupando os gabinetes ministeriais. O resultado de tudo isto tem sido um conjunto de reformas falhadas de que já se perdeu a conta. Tem sido, também, uma espécie de esquizofrenia que domina os actos dos responsáveis pela Educação, como se esse sector fosse o fim último de todas as coisas, em vez de uma parte (e só isso) do todo social.
O novo modelo de gestão das escolas, o Estatuto do Aluno, o modelo de avaliação dos professores e as novas regras para organização dos apoios aos alunos com dificuldades são mais alguns tristes exemplos desta veia regulamentadora, com objectivos orçamentais de conjuntura. A previsível transferência da gestão de alguns sectores da Educação para as autarquias, deve ir na mesma linha.
Depois vem um secretário de Estado reconhecer que, afinal, nem as escolas conhecem bem, pecado inevitável para quem também não conhece o país e dele desconfia. O problema é que os governantes passam e as escolas e as comunidades permanecem, fartas de compensar os “excessos de optimismo” destes “líderes” em trânsito. Talvez seja altura de os enviar para os supranumerários e dar-lhes a provar o seu próprio remédio. Porque se há estrutura no Estado que tem provado a sua inutilidade é, precisamente, o Ministério da Educação.
“Tudo isto reforça a convicção de o único caminho a seguir é o da maioria dos países nórdicos, que só recomeçaram a ver os seus jovens a progredir quando, na prática, acabaram com o Ministério da Educação e entregaram o poder às escolas e à comunidade”- José Manuel Fernandes (Público, 9 de Abril)
Há coisas que se passam nos grandes centros que só conhecemos pelos noticiários- eis a nossa vingança. Do mesmo modo que, para muitos, não passamos de um pontinho nos mapas, uma colecção de imagens pitorescas, ver um acto de má educação de um qualquer jovem passar a confronto directo com alguém mais velho é, para nós, curiosidade de telejornal (ou YouTube). Aqui, a pressão do meio ainda se faz sentir (para o bem e para o mal) e se já temos telemóveis (para que conste), ainda não temos a indiferença que gera sentimentos de impunidade.
No que diz respeito ao ordenamento do nosso território ou, mais precisamente, à falta dele, todos os governos têm usado a táctica de varrer o lixo para debaixo da carpete. Entala-se a maioria da população na faixa litoral, ignora-se a existência do Interior, teorizam-se os benefícios da deslocalização, como se nada disto interferisse com a vida das pessoas, a sua estabilidade, as suas redes de suporte. Depois encenam-se indignações quando alguma informação sai do controlo e o país é confrontado com as consequências da obra. “Chamem a polícia”! Vá lá, vá lá, que ainda nenhum “estatístico” apareceu a descansar-nos por ainda não ter havido mortes nas escolas, como já aconteceu nalguns dos mais desenvolvidos países do mundo- ainda vão chegar à conclusão de que é um indicador de desenvolvimento...
Vouzela deve muito a excelentes professores que, em épocas várias, aqui deixaram marca. Mulheres e homens que perceberam (e percebem) a dimensão social da sua profissão, colocando os seus conhecimentos ao serviço da comunidade e tentando compensar as suas muitas carências. Nós sabemos quem são os professores excelentes e não precisamos que um qualquer burocrata da 5 de Outubro nos venha mostrar a “bitola certa” para os avaliar. Só precisamos que não atrapalhem.
No entanto, o Ministério da Educação insiste em considerar-se dono da verdade absoluta e impor regras ao país inteiro, como se todas as escolas tivessem que enfrentar os mesmos problemas, como se a reposta às necessidades de cada comunidade, pudesse estar dependente da sensibilidade e inspiração de cada grupo que vai ocupando os gabinetes ministeriais. O resultado de tudo isto tem sido um conjunto de reformas falhadas de que já se perdeu a conta. Tem sido, também, uma espécie de esquizofrenia que domina os actos dos responsáveis pela Educação, como se esse sector fosse o fim último de todas as coisas, em vez de uma parte (e só isso) do todo social.
O novo modelo de gestão das escolas, o Estatuto do Aluno, o modelo de avaliação dos professores e as novas regras para organização dos apoios aos alunos com dificuldades são mais alguns tristes exemplos desta veia regulamentadora, com objectivos orçamentais de conjuntura. A previsível transferência da gestão de alguns sectores da Educação para as autarquias, deve ir na mesma linha.
Depois vem um secretário de Estado reconhecer que, afinal, nem as escolas conhecem bem, pecado inevitável para quem também não conhece o país e dele desconfia. O problema é que os governantes passam e as escolas e as comunidades permanecem, fartas de compensar os “excessos de optimismo” destes “líderes” em trânsito. Talvez seja altura de os enviar para os supranumerários e dar-lhes a provar o seu próprio remédio. Porque se há estrutura no Estado que tem provado a sua inutilidade é, precisamente, o Ministério da Educação.
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