quarta-feira, abril 30, 2008

O discurso do Presidente da República e a Lei Eleitoral para as Autarquias

“Os portugueses são claramente favoráveis a medidas que aumentem a presença de mulheres na vida política, criem novos mecanismos de participação, personalizem o sistema eleitoral e introduzam mecanismos de democracia directa ou semidirecta.(...) Os jovens não se distinguem particularmente dos mais velhos a este nível, a não ser ao revelaram-se mais apoiantes da democracia directa”- in, Os Jovens e a Política, estudo citado pelo Presidente da República no seu discurso do 25 de Abril, da responsabilidade do Centro de Sondagens e Estudos de Opinião da Universidade Católica Portuguesa.

Deixemos as declarações do Presidente da República para os opinadores de primeira linha. Mas é motivo de reflexão o modo como foi tratado, pela comunicação social e pela maioria dos comentadores, o estudo que lhes deu origem: enfatizou-se o que é secundário (episódico, até) e ignorou-se o principal. E o principal é o que a citação que fazemos sintetiza.

Ao longo de 52 páginas, o estudo revela o desencanto dos portugueses (e não apenas dos mais novos) face ao estado da nossa democracia, o desinteresse pela participação nas organizações tradicionais (sobretudo os partidos) e o apoio a reformas radicais que permitam uma intervenção mais directa na resolução dos problemas, o que justifica o maior interesse por tudo aquilo que o cidadão sente mais próximo, como os assuntos de política local.

Ora, governantes, candidatos, jornalistas e profissionais do opinanço, chamados a comentar o assunto, atiraram-se à ignorância da miudagem sobre questões da nossa História recente, que, no estudo, apenas ocupa o espaço de uma página, e aparece como ilustração do desinteresse por esses assuntos. Ainda gostávamos de saber se tão ilustre gente, na idade dos entrevistados, sabia, de cor e salteado, a lista dos presidentes da primeira República, ou os números alucinantes das votações no Américo Thomaz.

Quanto ao resto, silêncio total. Espera-se que no recolhimento do Palácio de Belém, o Dr. Cavaco interrogue o engenheiro Sócrates, mais o líder do PSD (seja ele quem for) sobre as aberrações introduzidas na Lei Eleitoral para as Autarquias. Espera-se que procure saber porque é que uma maioria de 59%, não pode derrubar um presidente de câmara. E que motivo levou tão experientes representantes do povo, a afastarem-nos da nossa própria representação nos órgãos de poder onde é mais fácil fazê-lo. Sobretudo, espera-se que aja em conformidade.

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