Laranja descascada
Laranjas, só da época. Mesmo os ditos alertas, só nos interessam os que dizem respeito ao estado do tempo. Quer isto dizer que não temos a intenção de gastar uma linha que seja com a crise do PSD. No entanto, interessa-nos o modo como está a ser analisada e que nos parece dizer algo sobre outra crise bem mais importante: a da democracia.
Basta passar os olhos pelos principais jornais, “clicar” nos blogues de referência e o diagnóstico é fácil de fazer. Comenta-se a forma, ignora-se o conteúdo. Nem uma ideia sobre a política económica, o ordenamento do território, a nossa posição na Europa, a Cultura, a Educação… o que quer que seja. Os candidatos distinguem-se pela estrutura do discurso, a “família” a que pertencem, o apoio do “aparelho”, a táctica. “Barão ou baronete, cuida da gravata ou tem voz de falsete?”
Olha-se para os partidos de poder como se fossem um fim em si mesmos. E se calhar, são.
Não é, pois, de estranhar, que o ministro do Ambiente passe pela Assembleia da República, tropece na nomeação dos PIN com impactos na Reserva Ecológica Nacional e daí não surja qualquer crítica visível- estivessem lá “os outros” e fariam exactamente o mesmo, já que o Ambiente faz parte da táctica e não da estratégia.
Não é, também, de estranhar, que os dois maiores partidos portugueses cozinhem um tremendo atentado à democracia na forma de Lei Eleitoral para as autarquias e nada mais mereça do que meia-dúzia de “comentários técnicos” e o silêncio dos órgãos de soberania.
Não se estranha, ainda, que a única ideia para o relançamento da economia repita os erros dos tempos da “política do betão” e se admita que a coisa seja apresentada como a descoberta da pólvora.
Assista-se, pois, às delícias do manobrismo em torno da crise do PSD. Eleja-se o melhor nó de gravata, o melhor movimento de mãos, o tom de voz mais cristalino. Quanto a nós, preferimos a laranja descascada. Da época. E já lá vão 34 anos desde o 25 de Abril.
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