terça-feira, janeiro 01, 2008

Tempo de acordar


O ano que agora começa, vai ser o primeiro em que as preocupações ambientais vão ter lugar cativo na agenda da gestão autárquica. Pelos piores motivos. As primeiras angústias vão surgir com a falta de água e o desleixo com que foram tratados os nossos recursos hídricos. Ninguém vai assumir responsabilidades, todos vão exigir sacrifícios… ao cidadão comum. Há freguesias do concelho de Vouzela com dificuldade no abastecimento de água. Inadmissível!

Que 2008 seja, então, o ano da participação directa de todos nós, na gestão do que, afinal de contas, é de todos nós. Que nem um cêntimo seja gasto, enquanto a rede de saneamento básico não se estender a todas as freguesias. Que se defina como prioritário a elaboração do mapa dos recursos hídricos e o plano da sua recuperação. Para ver se outro galo canta.

Dívida do Estado às autarquias

A confirmarem-se os números divulgados pelo Diário de Notícias (30 de Dezembro), o montante da dívida de vários ministérios às autarquias locais ultrapassa os 150 milhões de euros. Só no distrito de Viseu, as doze câmaras que aceitaram divulgar valores (num total de 24 municípios), apontam uma dívida de 5736546 euros. Na região de Lafões, Oliveira de Frades não refere qualquer dívida, São Pedro do Sul não respondeu ao inquérito e Vouzela reclama qualquer coisa como 541577 euros.

Os valores impressionam. Mas parece-nos que o mais impressionante é o que revelam sobre o modo como o aparelho de Estado tem sido gerido, a facilidade com que se falta à palavra dada e a enorme lata com que, depois, se exige que o cidadão pague o “Carnaval”. Os maus da fita? Não tem nada que saber: governos do PS e do PSD (com ou sem CDS).

Adeus, senhor ministro

Hoje mesmo está marcada uma vigília à porta do Centro de Saúde, como forma de protesto contra as reformulações impostas pelo ministério de Correia de Campos. Os serviços de saúde de Vouzela foram recentemente remodelados, sendo uma das obras que contribui para os valores que a Câmara reclama do aparelho central do Estado. Com as alterações previstas, o ministro da Saúde não só ignora a obra, como a esvazia de sentido. A verdade é que tem que ser paga. Como querem que nos impressionemos com os custos da manutenção dos serviços abertos 24 horas?

Já uma vez dissemos que este governo se arrisca a ser o primeiro a cair por… dificuldades de expressão. Essa característica que afecta grande parte dos seus membros, tem no ministro da Saúde um exemplo extremo. Poucas das medidas que tomou foram convenientemente explicadas, permitindo a confusão entre aquelas que são de reconhecida utilidade e propostas, até, pela Organização Mundial de Saúde (o encerramento das maternidades com menos de 1500 partos por ano, por exemplo), com outras que não passam de meros truques de contabilidade.

Mais do que um problema de vocabulário, Correia de Campos parece sofrer de falta de humildade. Não era preciso ter um doutoramento em Antropologia para antecipar a reacção que as suas medidas iam provocar numa população cada vez mais idosa, isolada, desprotegida. Também não é difícil compreender que o “extremismo” da sua “reforma”, deve muito à incapacidade em montar um verdadeiro serviço de medicina familiar (neste caso, para além das políticas de Saúde, há que exigir responsabilidades aos gerentes da Educação, com os famosos numerus clausus no acesso aos cursos de Medicina).

O que se exigia do responsável máximo pelo sector, era que soubesse dialogar, que manifestasse preocupação por aqueles que mais vão sentir as consequências da sua política e que, legitimamente, afirmam não a compreender. Para usar uma expressão muito de acordo com os tempos que correm, “é para isso que lhe pagamos”. Não o fez. Que as manifestações com que iniciamos 2008, dêem o mote para o resto do ano. Adeus, senhor ministro.

Falhou, senhor presidente

Numa entrevista recente, o presidente da Câmara de Vouzela chamou a atenção para as limitações da colecta conseguida no Concelho. Tem toda a razão. Para haver colecta, é preciso haver riqueza e, já agora, haver gente- ambas escasseiam por estas bandas. Mas não nos recordamos de ter ouvido o senhor Presidente reconhecer que, afinal de contas, o "modelo de desenvolvimento" que defendeu para o Concelho, falhou. E falhou.

De uma vez por todas, Vouzela precisa “arrumar a casa”. Decidir em que actividades vai sustentar o seu equilíbrio e que não podem limitar-se a “parques industriais” de reduzido potencial. Por sua vez, repetir até à exaustão que Vouzela tem que ser um destino turístico, não chega. Não é possível atrair visitantes e permitir o desleixo com que estão a ser tratadas áreas de reconhecido interesse, como o Monte Castelo. Não é possível chamar pessoas, não tendo instalações mínimas para as alojar. Não é possível usar o chamariz da nossa rica paisagem e nada fazer para salvaguardar as actividades de que depende. É tempo de acordar.

5 comentários:

AC disse...

É necessário geminar Vouzela com Estarreja. Estraga-se apenas uma casa.

Cpts e Votos de Feliz ano.

Zé Bonito disse...

Um excelente ano e boas "notícias d'aldeia".

eclipse disse...

Meu caro Zé Bonito:
Conforme referi no meu primeiro e até agora único comentário ao seu blog, louvo o facto de ter aparecido um espaço de debate sobre Vouzela. Nesse mesmo comentário, procurei fazer algumas correcções, que aliás, teve a gentileza de as colocar no line.
Todavia, alguns posts depois, vejo que continua a cometer os mesmos erros, talvez por falta de informação e continua a criticar por criticar, sem o mínimo de fundamento. Como neste post sobre o Turismo, onde se refere que eu terei falhado.
Admito que tenha cometido erros durante o meu mandato. Seria impossível que não os cometesse. Procurei, no entanto, sempre fazer o melhor que sei e que posso para o desenvolvimento do concelho de Vouzela.
Permita-me, pois, que venha novamente a terreiro fazer algumas correcções a um post que considero perfeitamente injusto e revela muita falta de informação.
1. Quando refere que Vouzela não tem instalações mínimas para alojar os seus visitantes, para além de não ser verdade, pretende daí concluir que a culpa seja da Câmara Municipal?
2. Entende, que deveria ser a Câmara, por exemplo, a abrir um hotel? Não acha que esse papel deve pertencer à iniciativa privada, à tal sociedade civil?
3. Ignora Vª Exª o grande investimento que tem sido feito no parque de campismo de Vouzela, aliás, um dos melhores parques de campismo municipais do país? Pode discutir-se se é esse o modelo que queremos para o Turismo em Vouzela, mas o Parque existe e que há que qualificá-lo. Foi o que fizemos.
4. Sabia que o Monte de Nª Srª do Castelo é de gestão do Estado e não da Câmara Municipal?
5. Sabia que, apesar disso, ainda há cerca de 2 anos foi este Monte objecto de uma grande intervenção por parte da CM de Vouzela, por forma a torná-lo uma floresta modelo?
6. Sabia dos esforços que a CM de Vouzela e de um conjunto de investidores privados para concretizarem um programa PITER para a região e que, previa, entre outras coisas, uma estalagem na Vila, uma rede concelhia de casas de turismo em espaço rural e um conjunto de investimentos públicos na área do Turismo e que este mesmo programa foi chumbado pelo Governo?
7. Sabia do investimento que foi realizado no posto de Turismo Municipal?
8. Conhece o conjunto de publicações e brochuras sobre Vouzela?
9. Conhece que a forte aposta na rede concelhia de percursos pedestres tem um assinalável êxito?
10. Conhece a aquisição de um comboio turístico por parte da CM de Vouzela, exemplo que, pelo seu sucesso, vai ser seguido por outros concelhos, nomeadamente pela CM de Viseu?
11. Ignora Vª Exª o investimento em recursos humanos realizado pela CM, com a contratação de vários técnicos na área do Turismo?
12. Conhece o investimento na recuperação do Património, nomeadamente na torre medieval de Alcofra, envolvente à torre medieval de Cambra, na barragem da Lapa da Meruge e num conjunto de arranjos urbanísticos e áreas de lazer por todo o concelho?
13. Conhece o número assinável de visitantes à Vila de Vouzela, nomeadamente de Turismo Sénior, número esse que tem subido permanentemente ao longo dos anos?
14. Sabia que o levantamento de montantes nas caixas Multibanco de Vouzela tem vindo a crescer de ano para ano, apesar da tão propalada crise?
15. Conhece os projectos de requalificação das torres medievais de Cambra e de Paços de Vilharigues?
16. Conhece o projecto de requalificação do Centro Histórico de Vouzela?
Reflicta bem e veja a injustiça que cometeu. Penso que não falhei. O que falha é uma iniciativa privada forte, apostada em aproveitar os grandes recursos e as enormes potencialidades que este concelho tem. E depois, se a Câmara entravar ou não apoiar, aí sim, malhe com toda a força!
Telmo Antunes

Zé Bonito disse...

Caro Eclipse:
A maior parte das respostas às suas perguntas é óbvia e está publicada neste blogue desde Dezembro de 2006. O senhor sabe que eu sei o que pergunta. Só que pouco do que refere acerta no alvo do que deve ser um projecto turístico para Vouzela. Aliás, exceptuando um ou outro caso polémico e até revelador de algum mau gosto, a obra que cita- é preciso dizê-lo- mais não é do que simples obrigação de quem dirige a autarquia. Nalguns casos foi aqui elogiada (florestação do Castelo), noutros colocamos "cautela e caldos de galinha" (projecto de restaura da Torre de Vilharigues), noutros alertámos para a insensibilidade (recuperação dos recursos hídricos). Só que num concelho como Vouzela, turismo é a consequência do equilíbrio e do ordenamento de todas as actividades com impacto no território. Sobre isto o que diz o senhor? "O que falha é uma iniciativa privada forte, apostada em aproveitar os grandes recursos e as enormes potencialidades que este concelho tem". Pois é. E está à espera do milagre? Ou será que era competência sua a mobilização de recursos e de vontades? Ninguém diz que é fácil. Mas é urgente.
Sinceros desejos de um Bom Ano que se tarduzirá sempre no benefício de Vouzela.

Zé Bonito disse...

Já gaora: não seria possível facilitar o acesso do público em geral ao trabalho "Vouzela, A Terra, os Homens e a Alma"? Está esgotado?

Outra obra cuja leitura e divulgação aconselhamos é "Antiguidades Pré-históricas de Lafões", Amorim Girão, Imprensa da Universidade de Coimbra. Numa altura em que cada vez mais importa pensar a região no seu todo, nada mais actual.