“(…) os media podem dirigir, efectivamente, a percepção da realidade desde que não existam informações que a contrariem. E ainda que não possam moldar cada opinião individual sobre cada assunto particular, podem, isso sim, delimitar a realidade perceptiva geral no interior da qual se vão formar as opiniões. Aqui radica, talvez, o seu aspecto mais importante: estabelecer a ordem do dia para todos, organizando o espaço público, as questões em que pensar”.
- A Formação da Mentalidade Submissa, Vicente Romano, Porto, Deriva Editores, 2006, p. 159
A história do milho transgénico de Silves, tocou a cerrar fileiras, não contra os OGM ou a seu favor, mas sim na defesa da inviolabilidade da propriedade privada. Aliás, não se via nada assim, desde os “vendavais” do PREC. As edições do Público são um bom exemplo do que afirmo. Até professores doutores em Biologia e “ambientalistas encartados” tiveram direito a espaço para dissertarem sobre tácticas e estratégias de acções de protesto, sem uma única vez usarem os seus doutos conhecimentos para dizerem o que quer que fosse sobre o milho. No entanto, reconheço que a acção da “Verde Eufémia” esteve longe de ser bem organizada. Bem melhor seria pôr o ministro a lamber-se com umas papas feitas com aquele material e fazer dele um “case study”.
Curioso é verificar que, passados todos estes dias, não estamos mais informados sobre os OGM, nem sobre o modo como estão a ser controlados os diversos hectares desses produtos espalhados pelo país (se é que estão). Não foram essas as questões em que quiseram que pensássemos. É pena. Até porque, como foi reconhecido pela Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sogro (Anpromis), os transgénicos fazem parte da estratégia para enfrentar os “novos desafios que se colocam aos agricultores” (Público de 22 de Agosto) e sobre os quais também nada sabemos- só suspeitamos…
Também não sabemos o que levou os activistas da “Verde Eufémia” a escolher aquela propriedade como alvo, quando era fácil prever que a sua pequena dimensão iria ser aproveitada para denegrir a iniciativa. Por estranho que pareça, nem sabemos o que move tal organização, quando as declarações do seu dirigente (que falava em “repor a normalidade ecológica”) davam pano para mangas.
De facto, ficamos com a sensação de ter assistido a um drama, em que só uma parte estava bem ensaiada: a da feroz mobilização informativa a favor da inviolabilidade da propriedade privada. Excessivamente bem ensaiada…
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