segunda-feira, junho 04, 2007

Revelações

Há momentos assim: de repente, sem que nada o faça prever, são desvendados os mais insondáveis mistérios do Universo. Este fim-de-semana, foi um deles- estou que nem posso. Desde a conclusão do Presidente da República (Sua Excelência...) de que é preciso fazer algo para travar o envelhecimento do País, até à descoberta do Vasco Pulido Valente, de que, de Lisboa à Ota são 3 horas de viagem... de táxi (ver “Público” de Sábado), foi um fartote de revelações.

Fazendo umas contas rápidas, penso não errar muito se disser que o Professor Cavaco anda nas lides políticas há quase vinte anos. Quanto ao Dr. Vasco Pulido Valente, investigador com obra feita na área do Liberalismo (não esse, o outro), tem mais currículo, mas também andou pelo governo, mais ou menos pela mesma altura. Pois, neste ano da graça de 2007, foram os profetas da “boa nova” que nos deixou, a todos, conscientes de uma única coisa: estes senhores não fazem a mais pequena ideia do que é o país que governam (ou governaram) e dos dramas que por cá se vivem.

O envelhecimento da população é problema que há muito preocupa o interior do País (tendo a A1 como referência, aquela parte que fica do lado direito se estivermos virados para Norte, ou do lado esquerdo, no sentido inverso). Há muito que nos sentimos impotentes para travar o despovoamento e renovar o “tecido” social e económico. Não foi preciso que, lá em Lisboa, os homens das contas começassem a perceber o desequilíbrio entre a coluna do “deve” e a do “haver” e desatassem a fechar escolas, centros de saúde, tribunais, ou a inventar fórmulas para adiar reformas que, por estes lados, pouco pesam no Orçamento. Quanto aos problemas de circulação do Dr. Vasco, arrisco dizer que o “seu” táxi cobre mais rapidamente os cinquenta e tal quilómetros que separam Lisboa da Ota, do que a distância que vai do Rossio à Portela em “hora de ponta”. Não me interpretem mal, porque não tomo posição pela morada do novo aeroporto e até sou dos que vão assistir pela televisão, se alguma vez um desastre, que se espera que nunca aconteça (bato três vezes na secretária, em nogueira velha), abrir um “corredor” entre a Avenida da República e Sacavém.

Mas, no meio destas “revelações”, convém que nós, cidadãos que resistem longe do mar, compreendamos que somos uma pequenina mancha de cor, nos gráficos desta gente ilustre. Conseguir alcançar os seus ouvidos (certamente afectados pela poluição sonora), exige que nos deixemos de “querelas de paróquia” e de confianças cegas em “representantes”, cujo único objectivo é atravessarem a A1 para o outro lado e esquecerem-se da distância e do passado.