Os poetas andaram pela feira
NESSES ANOS
João Pedro Mésseder
Nesses anos o calor apertava e chegaram a temer pelas crianças. Mas os amigos vigiavam, guardando um pouco da antiga generosidade.
Puderam mostrar-lhes aquela terra desconhecida, dar-lhes a comer um pão digno e rude.
À noite, despidos pelo vento, descobriam ainda alguns lugares adormecidos. E alguém enchia páginas de um tempo suspenso sobre o rosto da planície. A planície exangue e insegura.
João Pedro Mésseder
Nesses anos o calor apertava e chegaram a temer pelas crianças. Mas os amigos vigiavam, guardando um pouco da antiga generosidade.
Puderam mostrar-lhes aquela terra desconhecida, dar-lhes a comer um pão digno e rude.
À noite, despidos pelo vento, descobriam ainda alguns lugares adormecidos. E alguém enchia páginas de um tempo suspenso sobre o rosto da planície. A planície exangue e insegura.
A METÁFORA
José Fanha
José Fanha
Encontro o Mestre e digo-lhe que há poetas
que recusam a metáfora
e o Mestre sorri.
A metáfora é apenas a metáfora, diz ele,
e não vale a pena ser a favor nem contra a metáfora,
nem a favor nem contra seja o que for.
As coisas são e não são
à margem
dos poetas com assento
em casas de comércio,
diz o Mestre,
enquanto almoça.
A realidade vale exactamente o que vale o nosso olhar.
A realidade é um peixe,
o peixe nosso de cada poema.
E o poeta é uma criança… Um menino
que segue pelos caminhos com bolas etéreas
a subir no ar.
O poeta é um menino com olhos de menino
e uma dor muito funda no seu peito de menino.
O poeta atravessa os pátios da infância
e vai feliz, dizendo
que as breves metáforas que lança ao ar
são apenas planetas de sabão a explodir
sucessivamente
sobre a cabeça do mundo.
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