segunda-feira, agosto 26, 2013

Demolir, porquê?

Pedimos a foto emprestada ao Ivo Madeira

Lemos no "Notícias de Vouzela" que a Câmara Municipal notificou os proprietários da casa que se mostra na imagem para intervirem, tendo em conta os sinais de degradação que se têm acentuado. Tudo normal, não tivesse sido apresentada como alternativa... a demolição. Demolição, porquê?

Este edifício integra um conjunto ainda com alguma harmonia, fronteira com  zonas da vila onde, desde há muito, o disparate é rei. Ele próprio integra alguns elementos característicos de um certo tipo das nossas construções em pedra. Ora, o mais elementar bom senso aconselharia a que os serviços técnicos duma terra que diz ter pretensões turísticas, não só tudo fizessem para o preservar, como informassem os seus proprietários sobre o modo de o adaptar às exigências atuais. Pelo contrário, pelo que lemos no "Notícias de Vouzela", parecem antes disponíveis para alargar o espaço da asneira.

Já há muito que alertamos para a importância de se protegerem marcas da nossa identidade, sobretudo quando se sabe que o maior trunfo de toda a região é a paisagem e o maior trunfo de Vouzela é o equilíbrio que ainda mantém entre o património natural e o edificado. Qualquer projeto turístico só terá viabilidade se assentar nesses pilares e tiver consciência de que ninguém nos procura para estar fechado entre quatro paredes, por melhor que seja a animação- disso, há melhor bem mais perto dos grandes centros. Por isso mesmo, é da máxima importância tudo o que possamos fazer para preservar os nossos aspetos mais característicos e não os limitar a essas espécies de disneylândias do antigo que dão pelo nome de "centros históricos".

Os serviços técnicos duma Câmara Municipal, naturalmente dependentes das orientações da sua direção política, têm que ser o melhor centro de recursos que alerta, aconselha, encontra soluções ao serviço do interesse coletivo. Não precisamos de recuar muitos anos, para recordarmos situações em que, em Vouzela, alguns projetos "popularuchos", do agrado das estratégias políticas do momento, foram travados por quem, na altura, soube usar os seus conhecimentos. Na situação atual, pelo contrário: ou os serviços técnicos têm informações (que desconhecemos) que possam justificar a demolição do edifício, garantindo a defesa e o melhoramento do conjunto lá existente, ou arriscam-se a serem, eles próprios, encarados como um dos (muitos) problemas que Vouzela tem que resolver.

quinta-feira, agosto 22, 2013

As Festas da Nª. Srª. do Castelo: a minha reflexão

Facto número um: as Festas do Castelo têm potencialidades várias.
Facto número dois: as potencialidades estão a ser desperdiçadas ano após ano, após ano, após ano... De diversas maneiras, em inúmeras ocasiões.
Facto número três: não são necessárias enormes estruturas, grandes obras e eventos megalómanos para impulsionar Vouzela. Será apenas necessário observar, olhar, reflectir sobre as potencialidades e perceber o que pode ser feito. Ao fim ao cabo, passa por fazer a chamada análise SWOT, que em português é a análise FOFA ou PFOA (potencialidades, fraquezas, oportunidades e ameaças).

Por agora penso nas potencialidades. Apenas uma ou duas, ou talvez mais. Que vi nestes dias a serem desperdiçadas. 

* * *

Potencialidades para o comércio e a restauração

Durante as Festas da Nª. Srª. do Castelo deste ano, em que estive especialmente atento, mais uma vez a vila encheu-se de vida. A mim, e acho que a qualquer Vouzelense, dá gosto ver este mar de gente a invadir a nossa terra.
Na última noite, era uma da manhã e a Rua Moraes Carvalho parecia qual rua do comércio de cidade agitada. E o movimento já existia em noites anteriores. Mas naquela última noite, depois do concorrido fogo de artifício, ao passar naquelas ruas vieram-me várias ideias à mente: "Que bom que seria que estas lojas e cafés tivessem alargado o seu período de abertura pela noite dentro". Como se faz em muitas terras durante períodos de festa. Que não fossem as lojas a estar abertas, mas os cafés - o Café Central lucraria em não fechar tão cedo, certamente.
Bem sabemos que muitos dos proprietários são pessoas com pouco vagar para grandes labutas noite dentro mas com certeza haverá quem consiga assegurar,  por estes dias, o negócio "fora de horas". 
A festa faz-se na alameda. Começa lá e termina lá. A vila não aproveita.

A Feira de Artesanato como potencial

A festa é paga. Valor simbólico, mas significativo, para qualquer um que não seja gastador. E os tempos são de poupar. Portanto, quem paga a entrada dificilmente se alarga na Feira de Artesanato. Como ouvi alguém exclamar "Gasto 2,50€ no bilhete já não vou gastar na feira...". Compreende-se! A Feira deveria estar "livre de bilhete". As pessoas deveriam poder usufruir da feira, das tasquinhas, das (poucas) diversões - era só o Touro Mecânico, não era?! Nem o vi..., sem terem de pagar obrigatoriamente os dois euros e meio. A organização optou por ouvir os "senhores das farturas" e colocou-os do lado de fora - pelo menos um, que eu visse. Mas os feirantes também se queixaram - "Havíamos de estar do lado de fora, para as pessoas poderem vir ver a feira sem pagar", disse um feirante.

As potencialidades do espaço

A festa lá decorreu. O concerto da cantora Aurea preencheu a Alameda. Público alvo: crianças, jovens, jovens adultos e a faixa etária dos 50/60. Cenário: plateia principal coberta de cadeiras. Tipo de música: essencialmente Pop. Portanto, os bancos não deveriam estar ali. Talvez o zelo pelos idosos, que deve ser sempre prioritário, seja desajustado em algumas situações - como num concerto com o target definido para um público essencialmente jovem e adulto. Em alturas desse espectáculo, estou em crer que as cadeiras estorvaram!
A Alameda é suficientemente grande para permitir um bom recinto para concertos. E um bom concerto faz-se com o calor do público. As cadeiras devem estar, mas em espectáculos de música que merece, e necessita, maior atenção e calma - como no concerto da fadista Ana Moura. Todo o espaço da Alameda, em frente ao palco, deveria estar preparado de acordo com a banda ou artista que actua. 

Outras potencialidades: desde o título das festas
 à romaria da Nª. Srª. do Castelo 

A divulgação das festas é feita. Mas quem olhou o cartaz nem percebeu exactamente os dias, nem os eventos. Faltava leitura. Mas isto é algo supérfluo. O importante, o "título" das Festas que apareceu em todos os cartazes e panfletos. É que não faz muito sentido - onde está o castelo? Há quantos anos existem estas festas? Não seria um elemento de marketing positivo enumerar a edição - Vi algures no Notícias de Vouzela, 98ª edição, que pelo número elevado, bem capaz seria de impressionar muita gente. E não será adulteração eliminar a "Nª. Sr.ª" da identificação das nossas festas? 
Sabendo que as festas são em honra da Nª. Sr.ª do Castelo, e que antigamente havia romaria no Monte com o mesmo nome, porque se quebrou tal tradição? Que sentido faz desligar a romaria das restantes festividades? Concerteza que aglutinando tudo, as festas ganhariam mais "alma". Até para as pessoas de fora, que não conhecem a nossa história, seria uma mais valia dar a conhecer o "santuário" e o Monte da N.ª Sr.ª do Castelo. Melhor para os turistas e para a nossa terra, que iria usufruir do lado mais tradicional e original das festas. Falta a estas festas o verdadeiro carácter, que se foi perdendo.

Se as Festas do Castelo não têm castelo e não há ligação à romaria da Nª. Srª. do Castelo, porquê manter este nome? Até porque, com designação parecida, há as Festas da Senhora do Castelo, em Mangualde (ver aqui). Onde certamente há romaria durante os dias de festividades e, provavelmente, até algum castelo por perto, ou vestígios.

quarta-feira, agosto 21, 2013

"Olhe para as plantas e para as árvores e começará a compreender este país"

Foto retirada do Público

A citação que usamos como título é de Roberto Bolaño (1) e qualquer especialista na matéria confirmará que tem um alcance universal. Pelos piores motivos, percebemos o seu significado sobretudo no verão, quando as chamas cobrem o país. Nessa altura, opinamos como se todos fôssemos experientes bombeiros e competentes gestores florestais. Depois... passa-nos. Diz quem sabe que os fogos evitam-se, dificilmente se combatem. Conhecer o que estamos a fazer com a nossa floresta, talvez ajude. Promover a criação de gado, também.
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(1)- Roberto  Bolaño, Os Dissabores do Verdadeiro Polícia, Quetzal, 2011

quarta-feira, agosto 07, 2013

Já não dá para esperar

Foto retirada daqui.

Organizado pelo jornal Público, o dossier "Autárquicas 2013", apresenta um conjunto de dados já conhecidos e divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística, mas que são uma boa ajuda para percebermos até que ponto as diversas candidaturas conhecem a realidade (e assumem responsabilidades!).

Claro que o "retrato" da região de Lafões é triste e nenhum concelho tem motivos para se rir do vizinho. Mas, uma análise mais cuidada, mostra a imagem de um interior totalmente abandonado em que, no que ao nosso distrito diz respeito, só o concelho de Viseu consegue apresentar dados mais animadores. Não há, pois, motivos para meias palavras: todos os sinais de alarme já há muito que dispararam e não há mais tempo para esperas e indiferenças. Que têm os candidatos para oferecer?

Para uma mais completa interpretação dos números, recordamos a população dos três concelhos. Vouzela: 10564; Oliveira de Frades: 10261; São Pedro do Sul: 16851.


 Vouzela
Oliveira de Frades
São Pedro do Sul
Média nacional
Índice de envelhecimento
213,4
140,2
207,4
127,8
Relação médico/habitantes
1341,1
1025,1
542
246,7
Pensionistas Seg. Social
40,6%
35,9%
38,8%
32,8%
Desemprego
9,9%
8,7%
11%
13,2%
Beneficiários RMG/RSI
2%
3,1%
5,7%
 5%
- Indicam-se a vermelho os valores que se afastam, pela negativa, da média nacional.

quinta-feira, agosto 01, 2013

Vouzela na "Illustração Portugueza" com referências à "Monarquia do Norte"


Illustração Portugueza, II série, Nº 684, 31 de Março de 1919, pág. 256, (Hemeroteca Digital, p.p. 18 e 19) - clique nas imagens para ampliar

Através do Facebook, o Prof. Jean-Pierre Silva alertou-nos para esta publicação da Illustração Portugueza. Trata-se de um  trabalho de divulgação da terra, com as tradicionais referências aos aspetos mais pitorescos. Mas, o mais curioso é a alusão feita aos "últimos acontecimentos", nem mais nem menos que os que a História regista com a designação de Monarquia do Norte. Tratou-se de uma tentativa de restaurar a monarquia, na sequência da situação criada com o assassinato de Sidónio Pais e que teve largo apoio, sobretudo, no norte do país. Vouzela é, habitualmente, referenciada no grupo apoiante desse movimento. Ora, pelo que se lê no artigo da Illustração, as coisas não se passaram bem assim. Não só há referência a grupos de civis, "fieis às instituições republicanas", a guardarem a ponte do caminho de ferro, como se termina com um aberto elogio coletivo: "(...) foi esta vila uma d'aquelas que mais valiosos serviços prestou à causa republicana nos últimos acontecimentos". Aqui está um assunto a merecer maior atenção futura.

Destaque, também,  para as imagens que ilustram o artigo. Cinco delas (não sabemos quais), são anteriores à data da elaboração do texto, já que eram apresentadas como oferta de uma "senhora muito modesta, que deseja ocultar o seu nome". De qualquer modo, chamamos a atenção para a que mostra uma avenida João de Melo de menor densidade e uma alameda (atual jardim) que mais não era que um prolongamento do espaço onde se realizava a feira.