A Câmara Municipal de Vouzela apresentou o orçamento e o plano de atividades para 2013. Segundo conta a
VFM, perante as críticas da oposição sobre a ausência de medidas que enfrentem o despovoamento do concelho e o encerramento de serviços, o presidente Telmo Antunes terá respondido que
"(...) as obras e investimentos
previstos nos documentos falam por si". Por acaso falam, mas... não dizem grande coisa.
Vamos por partes. Ao vereador Luís
Alcides é, normalmente, atribuído o mérito de por alguma ordem na situação
financeira da Câmara. Honra lhe seja feita. Também se percebe que a maioria PSD
procure capitalizar a competência que lhe é reconhecida, tentando enfatizar a
componente "técnica" das opções que faz. Por isso mesmo, aquando da apresentação do orçamento e do plano de atividades de 2013, foi dado legítimo destaque ao muito que melhorou na sua área de intervenção. O problema é que, por detrás
da "técnica", estão escolhas políticas e são essas que criaram o impasse em que nos encontramos.
Um dos dogmas que sempre orientou as
equipas lideradas por Telmo Antunes, é o de que a Câmara não deve interferir na
economia, área que, em sua opinião, é para ficar limitada à iniciativa dos privados. Como já por
diversas vezes aqui dissemos, este princípio não passa de uma figura de estilo e, na pior das hipóteses, pode ser uma mentira grave. "Interferir na
economia" foi o que as câmaras deste país se fartaram de fazer, quando
entraram descaradamente nos truques da especulação imobiliária, da alteração do
estatuto dos terrenos, da invenção de obra para justificar a captação de fundos
europeus. Olhe-se para a recente alteração feita ao PDM de Vouzela e facilmente
se encontram tais... "interferências".
No entanto, foi esta orientação
(política) que secundarizou um papel mais ativo do município na
mobilização de vontades e na adoção de medidas de discriminação positiva, erros
que a dureza da crise que vivemos atenuou, mas não anulou. De acordo com o que está a ser divulgado pela VFM, para
2013 continuamos a ter, como "obra de maior destaque", mais uma das chamadas
"zonas industriais" (neste caso a de Queirã, com 800 mil euros de investimento previsto), sem que
alguma vez tenha sido explicado onde estão essas empresas, esses investidores,
ou que outros fundamentos presidem a essa estratégia, numa altura em que o concelho
vive um aceleradíssimo processo de despovoamento (também seria interessante saber o que impede a oposição de pedir esclarecimentos sobre este assunto).
Depois, uma série de outros investimentos que não surgem articulados, nem parecem justificados como "motores" de qualquer plano estratégico: "(...)
230
mil € em caminhos florestais, 365 mil € em defesa da floresta, 200 mil € no
cemitério de Campia, no turismo, na rota Vouzela, 163 mil €, nos bungalows 81
mil € (P. Campismo) e na animação cerca de 100 mil €. O cineteatro vai ser
objecto de requalificação, está com graves problemas ao nível das infiltrações
de água, vai merecer um investimento considerável. Vamos ainda investir 200 mil
€ na rede de esgotos".
Sem por em causa a importância de qualquer deles (até porque não os conhecemos em pormenor), não se percebe como é que este plano pode responder aos problemas do despovoamento acelerado e do encerramento quase generalizado dos serviços. Fazem muito bem em investir no parque de campismo, mas, do que Vouzela precisa, é duma estratégia para o turismo que tem que ir muito para além de "bungalows" e de "animação". É importantíssimo investir na "defesa da floresta", mas essa atividade tem que ser entendida numa perspetiva integrada, negociando com os produtores a defesa de espécies endógenas (cuidado com a legislação que promove a expansão do eucalipto!) e em articulação com outras atividades económicas. Por último, dá que pensar que uma equipa que tanto se orgulha das suas estrondosas vitórias eleitorais, fuja de tudo quanto não seja "obra visível" como "o diabo foge da cruz", continuando a adiar a resolução dos graves problemas sentidos no concelho quanto a água e saneamento (200 mil euros de investimento previstos).
Vouzela precisa de muito mais. Precisa de acreditar que os seus responsáveis aprenderam com os erros do passado que, pela negativa, são todo um programa. Precisa de ser mobilizada em torno de propostas efetivas de mudança e não desperdiçar esforços em querelas inúteis. Precisa de acreditar, que não está condenada a medidas de "faz de conta". Vouzela precisa de esperança!
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Sim, Vouzela precisava de muito mais. Por isso, também não se compreende o elogio feito
pelo vereador Viriato Garcez, eleito pelo Partido Socialista, ao facto dos
documentos privilegiarem a captação de fundos comunitários, como se a simples
vinda de dinheiro fosse critério, independentemente do modo como se prevê
gastá-lo. Será que não aprendemos?