segunda-feira, julho 28, 2008

Sinais de crise

(La Boucherie- Eduardo Luiz)


A propósito da Quinta da Fonte e das ideias da Câmara do Porto para o bairro do Aleixo, tem sido interessante acompanhar as reflexões divulgadas pela comunicação social que, salvos raras excepções, revelam a falta de hábito em pensar o espaço em que vivemos.

O fenómeno dos bairros sociais que hoje andam nas bocas do mundo, foi uma consequência do êxodo rural e da excessiva concentração de pessoas nas grandes cidades. Não o êxodo rural dos primórdios da Revolução Industrial, que deu origem a cinturas onde se concentrou a mão-de-obra das fábricas que iam nascendo. Nessa altura, havia uma identificação de classe, geradora de dinâmicas com capacidade para resolver, melhor ou pior, problemas de integração. Exemplos desse fenómeno, podemos encontrá-los na génese do Bairro do Grandela em Lisboa e, também, na expansão entre Benfica e a Amadora.

Os bairros sociais de que hoje falamos (sobretudo, os problemas de que falamos), têm origem mais recente. Entre nós, mesmo muito recente. São de um tempo em que o sector secundário já não tinha capacidade para absorver as levas de imigrantes, provocadas pela total ausência de perspectivas para o mundo rural. São de um tempo em que a especulação imobiliária começou a ditar as suas leis, desertificando o interior das cidades, empurrando grande parte da população para periferias sem identidade, e circunscrevendo a miséria a áreas de menor interesse. O “assistencialismo”, foi o substituto institucional da velha caridade e a resposta possível de um sistema sem capacidade para integrar as suas “franjas sociais”.

A maior parte dos comentários que têm sido feitos a partir dos acontecimentos da Quinta da Fonte, ou da proposta de destruição do Bairro do Aleixo, limita-se a ideias para arrumar os excluídos ou para os manter na linha. Poucos arriscam uma ideia para acabar com eles. Poucos reconhecem que são a expressão visível de um paradigma de crescimento e de um modelo de gestão do território que lhe está associado- ambos a darem sinais claros de terem esgotado o prazo de validade.

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